A substituição generalizada de árvores de médio e grande porte por arbustos nas cidades
brasileiras, fenômeno a cada dia mais observado, é uma medida que deveria ser repensada
pelo gestor público e cidadãos devido à conseqüente redução da qualidade de vida e dos
benefícios financeiros antes propiciados pela cobertura arbórea com árvores de médio e
grande porte.
Arbustos são vegetais com:
- Estruturas lenhosas ou semi-lenhosas;
- 3- 6m de altura;
- Ramificados desde sua base;
Exemplo: Flamboyant Mirim, Grevílea anã, Falsa murta, Cróton Codiaeum, etc.
Árvores são vegetais que possuem:
- fuste (tronco) único, lenhoso e dividem-se pelo seu porte:
-Pequeno, para alturas entre (4-6m) e copas (< 4m) - Ex: Cassia borboleta Senna macranthera;
- Médio, para alturas entre (6-10m) e copas entre (4-6m) - Ex: Ipê Branco Tabebuia roseo alba;
- Grande, para alturas (>10m) e copas com dimensões (>6m) - Ex: Ipê Roxo Tabebuia impetiginosa.
Em vermelho nota-se o sombreamento
reduzido do arbusto em comparação ao propiciado pela espécie arbórea Sibipiruna em azul.
Dentre as inúmeras vantagens obtidas pela utilização de árvores de médio e grande
porte nas cidades destacadas por vários autores estão:
- redução de temperatura pela cobertura de superfícies refletoras de calor - Árvores de copa
rala interceptam de 60 a 80% da radiação direta incidente e as de copa espessa até 98% da
radiação direta;
- sombreamento e conservação do asfalto - cada m2 de asfalto coberto por copas reduz os
gastos públicos com manutenção em R$15,47/ano ( valor calculado em 2006);
- redução da velocidade das enxurradas pela retenção e liberação aos poucos da água das
chuvas - algumas espécies de grande porte como a tipuana e a sibipiruna podem reter até
60% da água nas 2 primeiras horas de uma chuva, liberando-a aos poucos;
- alta taxa de evapotranspiração, 400l diários, o que aumenta a umidade do ar e produz o
mesmo efeito que 5 aparelhos de ar condicionado médios (2500kcal/h) funcionando por 20h,todos os dias, sem gastar energia ou produzir calor como os equipamentos;
- ruas bem arborizadas podem reter até 70% da poeira em suspensão. Uma única fila de árvores pode reduzir os particulados em 25%, como é o caso da arborização viária.
Inúmeras cidades brasileiras enfrentam o processo de substituição generalizada da
cobertura vegetal viária, das árvores de médio e grande porte, por arbustos, arvoretas e
espécies de pequeno porte. Esta prática desconsidera os benefícios propiciados pela
arborização de médio e grande porte ao microclima e aos cidadãos urbanos. Estas
substituições têm sido influenciadas por diversos fatores desde a criação de mitos que
consideram incompatível a árvore e o meio urbano, bem como influências e restrições de
empresas concessionárias de serviços públicos, notadamente energia elétrica, redes de
água, esgoto e, mais recentemente, de gás. Locais antes arborizados e que ofereciam
condições agradáveis de vida à população estão enfrentando problemas acentuados pela
falta de vegetação. A retirada arbórea em muitas regiões e, a substituição do porte das
espécies utilizadas, além de alterar o microclima urbano será responsável pela
potencialização dos efeitos das alterações climáticas nas cidades, nas quais somente as
árvores poderão auxiliar o homem a resgatar e a manter a sua qualidade de vida.
CONCLUSÕES
- O uso de árvores é muito mais vantajoso que o de arbustos na arborização das vias das
cidades, tanto em termos de segurança pública, quanto financeiros, estéticos, climáticos e
funcionais;
- Cidades que optaram pela manutenção da arborização de grande porte, têm, atualmente,
grande diferencial em termos de qualidade de vida, comparando-se àquelas que optaram
pela sua substituição por arbustos, por espécies de pequeno porte, ou ainda, pela não
reposição dos indivíduos suprimidos;
- A utilização de árvores no meio urbano poderá reduzir as conseqüências dos fenômenos
das alterações climáticas globais cada vez mais vistos;
- O planejamento urbano adequado visando o estabelecimento, o desenvolvimento e a
manutenção de uma arborização de qualidade deve ser a meta dos gestores públicos, para
oferecerem qualidade de vida a toda à população, como, também, de empresas prestadoras
de serviços, preocupadas com a sustentabilidade;
- Em áreas consolidadas pode-se rebaixar a iluminação pública, trocar a rede de energia
convencional pela protegida, compacta e subterrânea, cuja viabilidade econômica se dá pelo
maior tempo de vida útil do material, alta confiabilidade do sistema e ausência da
necessidade da prática da poda de árvores.
Rev. SBAU, Piracicaba, v.2, n.4, dez. 2007, p. 50-66.50
USO DE ÁRVORES E ARBUSTOS EM CIDADES BRASILEIRAS
José Hamilton de Aguirre Junior1, Ana Maria Liner Pereira Lima2